Adaptado de: DANIEL OTTONI (http://www.otempo.com.br/superfc/no-brasil-esporte-universit%C3%A1rio-n%C3%A3o-%C3%A9-levado-a-s%C3%A9rio-1.699283)
O Brasil possui incontáveis casos de atletas de alto nível que foram
descobertos em peneiras ou por acaso, durante uma aula de educação
física ou uma simples brincadeira na rua. Depois de terem seu talento
lapidado, muitos jovens chegaram às equipes adultas do Brasil
participando de Mundiais e Jogos Olímpicos.
No entanto, o número, não somente de esportistas de sucesso, como de
medalhas, poderia ser muito maior se houvesse no nosso país políticas
concretas do esporte dentro das universidades, onde os atletas estariam
em um momento importante de transição, próximo ou até mesmo já presente
em campeonatos importantes e ainda com o suporte de estudos e pesquisas
científicas para um “upgrade” ainda maior na carreira.
A realidade brasileira é bem diferente, por
exemplo, da que acontece nos Estados Unidos. Lá, os esportes
universitários são os grandes responsáveis pela descoberta e formação de
atletas, que costumam fazer parte das delegações norte-americanas
multicampeãs ao redor do mundo. O melhor exemplo de como as equipes
profissionais se abastecem de jogadores universitários recém-formados é o
draft, processo de seleção que acontece anualmente em modalidades como
basquete e futebol americano. Estados Unidos.
Os competitivos torneios universitários dão aos atletas bagagem e
experiência suficientes para chegar às principais ligas do país em
condições de brigar por uma posição de titular nos times.
“Por lá, a estrutura é incomparável e vem desde a escola, antes mesmo
da universidade. Aqui, a necessidade por resultados imediatos impede
todo um trabalho de formação no Brasil. A infraestrutura fica focada
apenas nos clube. A mentalidade é outra”, lamenta Emerson Silami,
diretor da escola da educação física, fisioterapia e terapia ocupacional
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
No Brasil, os jovens que praticam esportes
precisam se dividir entre os estudos, em escolas ou universidades, e os
treinos, nos clubes ou equipes, para buscar a evolução dentro da
modalidade de sua preferência. Nos EUA, as duas atividades acontecem no
mesmo local e facilitam a vida do estudante-esportista. Filosofias distintas.
Além disso, no país do Tio Sam, as notas na escola são pré-requisitos
para a participação do jovem no time universitário. No nosso país, ir
bem na escola costuma não passar de uma mera orientação, salvo raras
exceções, para que o futuro esportista reconheça e valorize a
importância dos estudos.
O empresário brasileiro Gustavo Velloso, de 23 anos, ganhou bolsa de
estudos em duas universidades norte-americanas pelo bom desempenho no
futebol e conta um pouco de sua experiência por lá. “Era necessário ter
uma média de 75% nas notas para ser mantido no time. A estrutura de um
estádio da segunda divisão universitária era invejável e ficava à frente
de qualquer outro de Minas Gerais, tirando Mineirão e Independência”,
revela Velloso.
Para o diretor da UFMG, seguir o exemplo dos
EUA no Brasil seria algo impossível. “Falo isso com tristeza, mas é uma
utopia pensar que, um dia, chegaremos nesse nível. Não dá para imaginar
uma escola pública contratando um treinador de bom nível e ganhando um
bom salário por isso. Na terra de Barack Obama, os técnicos de escolas e
universidades conseguem ser bem-remunerados já na formação dos futuros
competidores”, destaca Silami. Utopia.
Flávio Davis, técnico principal da base de basquete do Minas Tênis
Clube, concorda com o abismo existente entre Brasil e Estados Unidos
nesse quesito. “Lá, essa organização do esporte universitário é feita
com maestria. O esporte é tratado como uma ferramenta para a educação,
sendo aproveitado para formação do profissional na sua plenitude. Já no
Brasil, temos um completo descaso com o esporte nas escolas e
universidades”, criticou.
Velloso também vê como difícil essa
possibilidade. “A chance de chegarmos perto do que acontece nos Estados
Unidos é de 0,5%. Lá, as universidades têm patrocínios do governo,
investimentos próprios e também de ex-alunos, que se orgulham de ter
feito parte das equipes e injetam muito dinheiro na instituição, todos
os anos, para serem usados no esporte. É algo diferenciado, impensável
aqui para o Brasil”, destaca. Improvável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário